Oswald se apaixona por Pagu

A partir de 1929, Oswald se apaixona por Pagu, que a seus olhos passa a ser o mais autêntico símbolo da ousadia e inconformismo antropofágico. A paixão de Oswald é correspondida, mas como Pagu também sente enorme amizade e admiração por Tarsila, sente-se dividida. Nada disso foi fácil para ela. Passa a dividir sua atenção entre os dois, sem esquecer de reservar também um espaço para o seu trabalho – um detalhe despercebido para muitos, mas importante e inacreditável para sua época e para uma garota de 19 anos! Durante o período modernista de 28 a 30, Pagu desenha para a Revista Antropofágica e escreve seus “sessenta poemas censurados”, que não foram encontrados. Também são dessa época o “Álbum de Pagu”, elaborado em 1929 e dedicado a Tarsila do Amaral, o qual reunia poemas e desenhos. E há ainda o diário a quatro mãos que escreveu com Oswald. Este separa-se de Tarsila. E em 5 de janeiro de 1930 casa-se, simbolicamente, com Pagu no Cemitério da Consolação, à Rua 17, nº 17. Mais tarde se retratam diante de uma igreja. Em 1931, com a crise econômica agravada pela crise de 29, Patrícia e o esposo se alistam na militância política do Partido Comunista. Nessa fase, ambos editam o jornal “O Homem do Povo”, que expressa uma visão radical de esquerda, e onde Pagu assina a coluna feminista “A Mulher do Povo”, além de ilustrações, cartuns e uma historinha em quadrinhos. É tambem desse período o seu romance “Parque Industrial”, que reflete sua solidariedade com o proletariado e sua crença na salvação do comunismo. Doze anos depois, ela escreveria seu segundo e último romance, no qual apresenta uma visão totalmente diferente, desencantada com a política e a falta de ética, coerência e integridade da mesma.




Ainda em 1931, como militante política, participa do comício dos estivadores em Santos. É presa, e ao ser libertada, o PC a obriga a declarar-se uma “agitadora individual, sensacionalista e inexperiente”. Contudo, Pagu não desiste da luta pelo que acredita. Há uma coragem e uma força não apenas impressionantes nesta jovem de 21 anos, mas também comoventes. Apesar de casada e com um filho, jamais se limitou à rotina dos serviços domésticos (higiênicos, culinários ou sexuais) e, menos ainda, às rotinas e absurdos partidários. Começa a viajar pelo mundo, como correspondente do “Correio da Manhã”, “Diário de Notícias” e “A Noite”. Visita o Japão, EUA, Polônia, Alemanha, China, França, Rússia. É a única jornalista latino-americana a presenciar a coroação do Imperador da Manchúria, de quem obtém as primeiras sementes de soja trazidas e plantadas no Brasil. Sim, devemos a soja a Pagu! Em 1934, a decepção com o comunismo começa a invadi-la e é expressa num cartão-postal enviado de Moscou ao esposo: “Gente pobre nas ruas e luxo para os burocratas.” Estuda em Paris, na Sorbonne, e é presa como comunista, sendo repatriada ao Brasil, quando então separa-se definitivamente de Oswald.



Com o Estado Novo, é presa mais uma vez, em 1935. Sofre terríveis torturas, além de perseguições dos companheiros do próprio partido. São quatro anos e meio de cárcere, dos quais é libertada em 1940, horrivelmente magra e esmagada física e emocionalmente. Seu senso crítico, porém, continua intacto. Prova disso é que, afinal, divorcia-se de vez do PC e percebe que a corrupção, a má-fé, a podridão política não escolhe partido.

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