A Atração Interpessoal: Uma Visão Psicobiológica



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Ao conhecermos alguém é freqüente, nos momentos iniciais de interação, formarmos uma primeira impressão dessa pessoa, impressão essa que é influenciada pelos seus comportamentos, pelo conhecimento de como essa pessoa é e pela sua aparência física. Tal ocorre porque temos a crença de que não só os comportamentos como a aparência (aspectos físicos e comunicação não verbal) refletem características da personalidade, crenças e estilos de vida.

A importância da beleza
Uma relação pessoal forma-se frequentemente com o surgir de uma sensação inicial de afecto por outra pessoa. Um dos factores que mais contribui para que tal ocorra é a percepção de atratividade física.
Numa experiência de Walster et al. (1966) grupos de estudantes universitários eram aleatoriamente emparelhados entre si, ao que se seguia um encontro entre os diferentes casais. Apesar de terem acesso a informações sobre a personalidade e sucesso acadêmico do parceiro, o grau de satisfação dos encontros era principalmente influenciado pela atratividade física destes. Noutro estudo de Clifford (1975) verificou-se que os professores a que eram fornecidas informações acerca de um grupo de crianças (onde se incluíam as suas fotos), consistentemente consideravam as crianças mais bonitas como sendo mais inteligentes e tendo maior potencial acadêmico.
A beleza física, ao contrário do esperado pela psicobiologia, não se restringe pois ao campo romântico-sexual, parecendo abarcar um leque mais vasto de relações sociais. Poder-se-ia argumentar que a preferência por pessoas fisicamente atrativas se baseia meramente num prazer estético contemplativo mas a verdade é que existem estereótipos associados à beleza. Espera-se que as pessoas bonitas sejam calorosas, amistosas e socialmente confiantes. Num contexto de emprego, as pessoas bonitas são mais facilmente escolhidas em entrevistas de seleção por serem consideradas melhores profissionais. Os homens com uma face com esquema infantil são vistos como mais ingênuos, honestos e generosos do que outros com expressões mais maduras. São também considerados mais atrativos pela maioria das mulheres, em oposição à típica imagem de macho viril que seria de esperar pelas previsões biológicas. Este estereótipo pode também tornar-se uma profecia auto-confirmatória, tal como ficou demonstrado num estudo de Elizabeth Tanke e Ellen Berscheid (1977). Nesta experiência, grupos de homens iniciavam uma conversa telefônica com várias mulheres depois de terem visto uma suposta foto delas: nalgumas eram mostradas mulheres bastante atrativas e noutras não. Os homens que julgavam estar a falar com mulheres atrativas eram mais sociáveis, calorosos, interessantes e extrovertidos. Por sua vez, as mulheres tornavam-se elas também mais sociáveis, animadas e confiantes.
A importância da interação
As pessoas são atraídas por aqueles com quem conseguem estabelecer interações positivas: as pessoas com quem trabalham, com quem partilham os mesmos gostos, atitudes, valores ou histórias de vida. Até as pessoas que interagem mais freqüente por mero acaso tendem a gostar mais umas das outras. Um estudo de Festinger, Shachter & Back (1950) realizado numa residência para casais de estudantes mostrou que as amizades tendiam-se a formar entre aqueles que viviam mais perto uns dos outros. Os casais mais populares eram os que viviam nos apartamentos mais próximos das escadas ou da zona das caixas de correio, onde tinham mais oportunidade para interagir com os outros casais.
Existem três razões pelas quais gostamos daqueles com quem interagimos. Por um lado, a interação com os outros permite a percepção de controlo em relação ao mundo, seja através da partilha de preocupações pessoais com um amigo íntimo (o que contribui para uma melhor compreensão e modo de lidar com o problema) quer quando estamos inseguros de determinadas opiniões ou crenças. Neste caso, procuramos os outros para testar a sua validade. Quando a interação é recompensadora o resultado é sempre o mesmo: gostamos dessa pessoa. Outra das razões são os sentimentos de pertença e aceitação que derivam de uma interação calorosa. Como conseqüência tendemos a ligar-nos a alguém com quem nos sentimos relacionados. Por fim, outra razão tem a ver com um mero efeito de exposição. Mesmo na ausência de uma interação real, a familiaridade pode resultar numa sensação de afecto.
A importância da semelhança
A semelhança conduz à atração também por três razões. Em primeiro lugar, porque tendemos a interagir com quem nos é semelhante: mesma idade, religião, classe social ou interesses. A semelhança torna a interação mais provável mas também mais positiva visto que as pessoas já têm à partida algo em comum. Em segundo lugar, porque partimos do princípio que os nossos semelhantes vão gostar de nós. Por fim, porque os nossos semelhantes validam as nossas crenças e atitudes. Tendemos a gostar imediatamente das pessoas que partilham opiniões connosco, o que ocorre porque vemos as nossas características como desejáveis, como sendo as mais “corretas”.
A semelhança, o afecto e a interação são factores que se influenciam mutuamente. A semelhança encoraja a interação e quando as pessoas interagem descobrem ainda mais semelhanças. A interação cria afecto e este leva a maior interação visto procurarmos a companhia daqueles de quem gostamos.
O Amor
Algumas relações envolvem sentimentos de paixão (amor passional). Estas emoções podem surgir rapidamente e estão intimamente relacionadas com o desejo sexual.
A paixão constitui um caso especial entre os diversos tipos de atração interpessoal: a sua intensidade distingue-a facilmente da amizade e de outras formas intermédias de atração; o seu caráter efémero e vulnerável contrasta com a estabilidade e durabilidade das experiências de vinculação infantil ou com a aparente continuidade do amor conjugal; a idealização do ser amado parece exclui-la do campo do deve e haver das troca sociais e afectivas.
Segundo a teoria triangular de Sternberg que considera a existência de três componentes no amor (intimidade, compromisso e confiança) podem existir diversos tipos de amor consoante a presença/ ausência entre estes três componentes. A intimidade relaciona-se com os sentimentos de proximidade, de vinculação ao outro (componente predominantemente emocional); a paixão com os impulsos relacionados com o romance, a atração física e a sexualidade (componente essencialmente motivacional) e o compromisso com a decisão a curto prazo de que amamos o outro e a longo prazo, com a aceitação do compromisso de continuar a relação (componente cognitivo). É da combinação destes três componentes que resulta a classificação dos diferentes modelos de amor/atração interpessoal. São eles: a inexistência de amor, o gostar, o amor à primeira vista, o amor vazio, o amor romântico, o amor conjugal, o amor irrefletido e o amor consumado.
Sexualidade
Várias investigações têm demonstrado que a intimidade sexual está relacionada com uma maior satisfação a nível da relação amorosa. A satisfação sexual encontra-se fortemente relacionada com a satisfação conjugal: os casais satisfeitos praticam sexo mais frequentemente. Contudo, isto não se reduz à atividade sexual visto que os casais satisfeitos realizam mais atividades em conjunto (desde o desporto à participação em atividades sociais) do que os insatisfeitos. As razões para a insatisfação sexual tendem a diferir entre os sexos. As mulheres insatisfeitas referem a falta de calor, amor e afecto nas suas relações sexuais enquanto que os homens referem a falta de atividade sexual mais variada e freqüente.
Num estudo de Peplau, Rubin & Hill (1977) realizou-se uma comparação de diversos casais que se distribuíam por três grupos: aqueles que tinham tido a primeira relação sexual até um mês depois de terem começado a namorar; aqueles que só tinham tido a primeira relação sexual mais tarde (até seis meses depois de terem começado a namorar) e aqueles que ainda não tinham tido relações sexuais. Nos casais que tinham iniciado a atividade sexual mais cedo as mulheres relatavam maior satisfação sexual, as relações sexuais eram mais freqüentes e ambos os membros tinham atitudes mais liberais em relação ao sexo. Os casais que tinham iniciado a atividade sexual mais tarde relatavam mais intimidade emocional e psicológica. Apesar das diferenças todos os três grupos estavam igualmente satisfeitos com a relação e num período de dois anos as percentagens de casais que se haviam separado eram semelhantes. Conclui-se que nem a altura de primeira relação sexual nem a importância atribuída à intimidade psicológica parecem afetar o futuro das relações amorosas.
Diferenças de personalidade na vivência da sexualidade
As atitudes das pessoas em relação ao amor e ao sexo são extremamente diversas, variando de acordo com questões culturais e com questões de personalidade. Em muitas sociedades, o amor é visto como algo indesejável sendo que a decisão de casamento deve ser feita apenas com base em critérios econômicos. Por sua vez, na sociedade ocidental considera-se que o amor é a base do casamento. Possivelmente por esta razão, é mais freqüente que indivíduos americanos relatem experiências de paixão romântica do que os japoneses ou os russos (Sprecher et al., 1994).
A começar pela atração inicial e a relevância inicial da beleza física verifica-se que esta assume diferente importância consoante características conativas. As pessoas com alto nível de auto-monitorização (aquelas que se preocupam mais em agir de modo socialmente apropriado e de acordo com as exigências situacionais) atribuem mais importância à beleza física de um potencial parceiro. Os indivíduos com baixo nível de auto-monitorização consideram mais importante certos traços da personalidade e outras características internas. Para além disso, tal como demonstrado por Snyder, Simpson e Gangestad (1982), os indivíduos com alto grau de automonitorização têm maior número de experiências sexuais bem como atitudes sexuais mais permissivas.
As atitudes perante o sexo também diferem. Algumas pessoas seguem uma orientação sócio-sexual restrita, ou seja, procuram sentimentos de intimidade e compromisso relacional antes de iniciarem a atividade sexual enquanto que outras têm uma orientação sócio-sexual não restrita, ou sejam, vêem o sexo como uma atividade de prazer sem necessidade de compromisso. Estes indivíduos têm atitudes mais permissivas em relação ao sexo e, conseqüentemente, relatam maior número de relações sexuais ocasionais, maior número de parceiros e desejo de uma maior variedade sexual.
É também importante o tipo de relação desejada pela pessoa: uma relação a curto ou a longo prazo. Para uma relação a curto prazo tanto homens como mulheres consideram como fator mais importante a beleza. Numa relação a longo prazo, os homens são tão seletivos quanto as mulheres, o que é contraditório relativamente à teoria do investimento parental de Trivers.
FONTE: Pedro Amaral

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