COMO DESENVOLVER EMPATIA?


Empatia não é pena, dó, caridade — todos sentimentos condescendentes.
Empatia não é amor, simpatia, agrado — todas manifestações de afeto pessoal.
Empatia não é entendimento, compreensão — todas operações de redução e controle.
Empatia não é algo que se exerça de fora para dentro, de uma pessoa para outra.

Empatia é ESTAR dentro de outra pessoa, sentir o que ela sente, pensar o que ela pensa.

A boneca de sal
Era uma vez uma boneca de sal. Após peregrinar por terras áridas, descobriu o mar e não conseguiu compreendê-lo. Perguntou ao mar: “quem é você?”E o mar respondeu: “sou o mar.”
“Mas o que é o mar?”
E o mar respondeu: “o mar sou eu.”
“Não entendo”, disse a boneca de sal, “mas gostaria muito de entender. como faço?”
O mar respondeu: “encoste em mim.”
Então, a boneca de sal timidamente encostou no mar com as pontas dos dedos do pé. Sentiu que começava a entender mas também sentiu que acabara de perder o pé, dissolvido na água.
“Mar, o que você fez?!”
E o mar respondeu:

“Eu te dei um pouco de entendimento e você me deu um pouco de você. Para entender tudo, é necessário dar tudo.”
Ansiosa pelo conhecimento, mas também com medo, a boneca de sal começou a entrar no mar. Quanto mais entrava, e quanto mais se dissolvia, mais compreendia a enormidade do mar e da natureza, mas ainda faltava alguma coisa:
“Afinal, o que é o mar?”
Então, foi coberta por uma onda. Em seu último momento de consciência individual, antes de diluir-se completamente na água, a boneca ainda conseguiu dizer:
“O mar… o mar sou eu!”
Todo conhecimento tem um custo.
O texto acima foi adaptado das versões do Frei Leonardo Boff e do padre jesuíta Anthony de Mello.

"Trate as pessoas como gostaria de ser tratada"

Poucos conselhos podem ser mais egocêntricos e narcisistas do que esse.
Não é verdade que devemos tratar as pessoas com gostaríamos de ser tratadas.
Porque a outra pessoa é uma outra pessoa. Porque ela teve outra vida, outras experiências. Porque ela tem outros traumas, outras necessidades.
Basicamente, porque ela não sou eu. Porque eu não sou, nem nunca vou ser, nem devo ser, a medida das coisas.
Utilizar a mim mesmo, minhas vontades e necessidades, o jeito que quero ser tratado, como se eu fosse o parâmetro para todas as outras pessoas é a essência do narcisismo e do egocentrismo. É o exato oposto de empatia.
A outra pessoa deve ser tratada não como eu gostaria de ser tratado, mas como ela merece e precisa ser tratada.
E como vamos saber como essa tal outra pessoa merece e precisa ser tratada?
O primeiro passo é sair de mim mesmo e deixar de me usar como parâmetro normativo do comportamento humano. Essa é a parte fácil.
Depois, preciso abrir os olhos e os ouvidos e o corpo inteiro, e reconhecer que existem outras pessoas no mundo, e que elas são todas bem diferentes de mim.
E que o único jeito de perceber o quão diferentes elas são é enxergando-as, escutando-as, conhecendo-as.
Com atenção plena e empatia verdadeira.
* * *

Reconhecer nossa ignorância e abrir nossos ouvidos

Para praticar a empatia, é preciso antes reconhecer que não sabemos nada.
Que a vida de cada pessoa inclui um horizonte de acontecimentos que se estende perpetuamente além de nossa visão: a gonorreia de uma anciã está conectada a sua culpa que está conectada ao seu casamento que está conectada aos seus filhos que estão conectados aos seus próprios dias de menina...
Empatia vem do grego "em" + "pathos" (sentimento), ou seja, é um penetrar, uma jornada.
Entrar em outra pessoa é como visitar em um país estrangeiro: temos que passar pela imigração e pela alfândega, caminhando com cuidado, de pergunta em pergunta, de sentimento em sentimento.
Empatia é tentar entrar em outra pessoa, nesse país estrangeiro, mas sempre reconhecendo que jamais, jamais conheceremos realmente essa pessoa, que nunca seremos cidadãs desse país.
(As observações dessa subseção vêm de Leslie Jamison, em The Empathy Exams, 2014.)

Exercícios de empatia, a série completa

8. Colocar-se em outra pessoa 
9. Fingir o não narcisismo (em maio/15)


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