TEORIA DE FREUD
É de todos conhecido, que a psicanálise, como terapia e como teoria foi uma criação de Sigmund Freud, que nos finais do século XIX, pôde observar nos seus pacientes neuróticos, que a maior parte das perturbações emocionais se deviam à existência de problemas sexuais reprimidos, embora, o conceito de sexualidade tivesse para ele um significado muito mais vasto do que lhe era atribuído pela linguagem comum. Segundo Freud, a sexualidade não se deve identificar com a “genitalidade”, embora esta esteja incluída naquela.
A sexualidade seria para Freud, todo o tipo de comportamento que resultasse fisicamente gratificante, que produzisse sensações de prazer e, portanto, abrangeria toda a actividade instintiva relacionada com as necessidades corporais. A partir desta ideia básica, a concepção de Freud sobre o homem mudou consideravelmente à medida que o trabalho desenvolvido com os seus pacientes neuróticos lhe ia apresentando novos dados (é sabido que Freud tratou alguns casos de histeria, perturbação que, segundo ele, tinha como causa a repressão da actividade sexual, sobretudo nas mulheres). Não esqueçamos que estávamos em plena época vitoriana e as mulheres não tinham, nessa altura, os mesmos direitos que os homens em termos da manifestação dos seus desejos sexuais, para além de outros. As mulheres sobretudo as casadas, eram tidas como objectos sexuais, que não deviam, por questões éticas e morais da época, manifestar desejo ou prazer no acto sexual.
Por volta de 1920 Freud elabora então uma teoria da personalidade que se tornou definitiva e que constituiu uma verdadeira revolução quanto ao modo de estruturação do nosso psiquismo.
Segundo ele, seriam três as instâncias básicas da personalidade: o Id, o Ego e o Superego. Freud não quis afirmar que o psiquismo humano era constituído por três partes, porque não foi isso que ele observou no comportamento perturbado ou normal dos seus pacientes; a sua genialidade consistiu em encontrar nesses comportamentos uma série de estruturas ou leis valendo-se dos três conceitos a que acima fizemos referência.
Estes conceitos revelaram-se de extrema utilidade para explicar ordenada e sistematicamente os fenómenos psíquicos, não fosse Freud, para além das suas competências na área da Medicina um excelente escritor.
O Id seria o conceito que designaria os impulsos, as motivações e desejos mais primitivos do ser humano. Para Freud, em grande parte, esses desejos seriam de carácter sexual, tendo em mira o prazer. No início, o ser humano seria todo ele Id, já que nessa altura o organismo humano não busca mais que a satisfação das suas necessidades instintivas e através delas o prazer. O Id como tal é inconsciente, embora procure alcançar a consciência para desse modo conseguir a realização dos seus desejos. O recalcamento, ou repressão é o mecanismo de defesa que impede, caso ocorra, a tomada de consciência do Id. Este mecanismo defensivo mantém o Id numa situação inconsciente quando os desejos que lutam por realizar-se não estão de acordo com o Ego ou o Superego. Freud, a partir de 1920 passa a atribuir também muito importância não só aos desejos sexuais mas também aos desejos agressivos do Id.
O Ego é o conceito que Freud utiliza para designar o conjunto de processos psíquicos e de mecanismos através dos quais o organismo entra em contacto com a realidade objectiva. O Ego seria um guia do comportamento do organismo à luz da realidade. É certo, que o Ego faz eco das demandas do Id e dos seus desejos, mas a sua função consiste em os satisfazer ou não, segundo as possibilidades oferecidas pela realidade. Não é que o Ego não queira o prazer que o Id procura, porém às vezes reconhece que tem de suspender a sua procura sob pena de entrar em conflito com a realidade.
Um Ego amadurecido, não se assusta ao fazer eco dos desejos do Id, ao tomar consciência deles. Ao contrário, um Ego infantil e neurótico resiste a trazê-los à consciência, defendendo-se contra eles através da repressão (recalcamento) e outros mecanismos de defesa. Um Ego maduro e adulto não se assusta, não teme os desejos instintivos; não quer dizer que os satisfaça a todo o momento, significa somente que os consciencializa e depois satisfá-los ou não segundo seja ou não racional fazê-lo.
No Ego radicam as funções perceptivas, cognitivas, linguísticas e da aprendizagem, ou seja, todas as funções através das quais o sujeito se adapta ao meio ambiente.
Um dos erros mais correntes, e que, com alguma frequência é cometido também por alguns psicólogos, consiste em acreditar que todos os processos designados pelo Ego freudiano possuem a propriedade de ser conscientes. É certo que a maior parte dos mecanismos e processos do Ego são conscientes, mas nem todos o são. Freud chegou a esta conclusão ao observar que em certas ocasiões alguns desejos instintivos procedentes do Id são rejeitados ou reprimidos pelo Ego sem que o sujeito tenha consciência alguma nem dos desejos nem da sua rejeição ou repressão.
A terceira instância da personalidade - o Superego - representa as normas e os valores convencionais da sociedade ou do grupo social no qual o indivíduo foi criado e em que está inserido. Diríamos que representa a sociedade dentro do próprio indivíduo, com as suas leis e normas muitas vezes fonte de embaraço e de inibição para a estrutura do ego.
É evidente que as exigências do Superego se opõem quase sempre aos desejos do Id. Este conflito, entre o Superego e o Id incide directamente no Ego, já que tanto o Id como o Superego procuram que o Ego actue de acordo com as suas próprias exigências ou desejos. Normalmente o que o Ego faz é procurar uma solução de compromisso que os satisfaça, embora parcialmente. Um Ego maduro consegue normalmente achar esta fórmula conciliatória, a qual, para que seja realmente válida, deverá ter em conta também a realidade ambiental.
Poder-se-á dizer que, para Freud, a personalidade consiste basicamente neste conflito entre os desejos instintivos e as normas interiorizadas da sociedade, conflito que se desenrola no grande cenário constituído pela relação mútua entre o Ego e a realidade ambiental.
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